A Casa de Sombras

Casa escura

A Casa de Sombras

Na pequena cidade de Neblinavale, o Mago dos Sonhos recebia visitantes em sua cabana iluminada por velas de cera de abelha, enquanto o sol se punha além das montanhas. Um jovem chamado Gabriel entrou, seu olhar inquieto revelando noites de sono perturbado.

“Mestre dos sonhos noturnos,” começou Gabriel, “tenho sido perseguido por uma visão que não me abandona.”

O Mago dos Sonhos fez um gesto para que ele se sentasse. “Conte-me sobre esta visão que tanto o perturba,” disse com sua voz serena e profunda.

“Eu caminhava por uma rua desconhecida quando avistei uma casa escura,” relatou Gabriel. “Em frente a ela havia um bar, cheio de vida e movimento. Algo me atraiu para a casa, não para o bar. Era como se ela me chamasse.”

O Mago dos Sonhos fechou os olhos, já visualizando a cena. “Continue.”

“A casa parecia um retiro espiritual, com muitos cômodos e uma energia estranha. Entrei pela rua de cima, desconhecendo a existência de uma saída nos fundos. Foi quando tudo mudou.” A voz de Gabriel tremeu ligeiramente. “As pessoas começaram a se transformar, pareciam zumbis, seus olhos vazios, movimentos mecânicos. Corri desesperadamente, encontrei a mulher que parecia ser a proprietária, mas algo nela também havia mudado. Consegui escapar sozinho pela porta dos fundos, uma saída que eu nem sabia existir.”

O Mago dos Sonhos permaneceu em silêncio por alguns instantes, como se viajasse pelo labirinto do sonho narrado. Quando finalmente falou, sua voz carregava o peso da sabedoria antiga.

“A casa escura, Gabriel, é o templo das suas verdades não confrontadas. Cada cômodo representa um aspecto de si mesmo que você teme explorar. O bar em frente simboliza a fuga fácil, a distração que muitos escolhem — mas você, corajosamente, optou pelo caminho mais difícil: adentrar a casa.”

Gabriel ouvia atentamente, seus olhos fixos no Mago.

“As pessoas transformadas em zumbis representam os comportamentos automáticos, as máscaras sociais que usamos quando nos afastamos de nossa essência. Você está testemunhando a perda da autenticidade em si mesmo e nos outros.”

“E a saída pelos fundos?” perguntou Gabriel, intrigado.

“Ah, essa é a mensagem mais importante do seu sonho,” sorriu o Mago. “Você descobriu uma saída que não sabia existir — isso revela que sua mente subconsciente já conhece o caminho para a libertação, mesmo quando sua mente consciente acredita estar encurralada.”

O Mago dos Sonhos levantou-se e caminhou até uma pequena mesa onde repousava um antigo baú de madeira. Dele, retirou um pequeno cristal violeta.

“Gabriel, seu sonho não é um aviso de perigo, mas um convite à transformação. Você não precisa temer as sombras da casa, pois você já provou ser capaz de encontrar caminhos inesperados. A próxima vez que sonhar com esta casa, não fuja — explore cada cômodo, converse com os habitantes. Apenas quando enfrentamos nossos medos é que descobrimos que eles não têm poder real sobre nós.”

Gabriel sentiu um peso sendo removido de seus ombros. Aceitou o cristal oferecido pelo Mago e o guardou próximo ao coração.

“Lembre-se,” concluiu o Mago dos Sonhos, “nem tudo que parece monstruoso o é de fato. Às vezes, o que interpretamos como ameaça é apenas uma parte de nós mesmos pedindo para ser reconhecida e integrada.”

Ao deixar a cabana do Mago, Gabriel olhou para o céu estrelado com novos olhos. Aquela noite, pela primeira vez em semanas, dormiu profundamente, sem medo dos sonhos que viriam visitá-lo. Pois agora ele sabia: dentro de cada sombra há uma luz esperando para ser descoberta.

"Buy Me A Coffee"

Written on July 1, 2025