2024-08-27-Cicatriz-e-Silencio
Cicatriz e Silêncio
Nos olhos dela, um silêncio profundo,
Onde o passado ecoa em sombras frias,
Um toque proibido, uma memória imunda,
Roubaram-lhe o calor, as noites vazias.
Um segredo guardado nas dobras do tempo,
Que a prende em correntes, invisíveis, cruéis,
Fez-se um muro entre nós, denso como o vento,
Onde amor e desejo são reféns de papéis.
Eu, jovem, ardente, um fogo sem fim,
Buscando o calor que o coração promete,
Mas o frio em seu peito, um poço sem fim,
Revelou-me um abismo que não se mede.
Corri ao encontro da cura, da luz,
Temendo que as trevas pudessem me tocar,
Mas graças ao céu, não sofro dessa cruz,
A luta, porém, ainda está por lutar.
Investimos em terapias, em palavras sem cor,
Mas nada mudou, seu mundo não se abriu,
Eu, no auge, tentando viver o amor,
Ela, ferida, que nunca se sarou, nunca sorriu.
E quando o amor se fazia, eu, cego, não vi,
Que para ela, era a sombra do que foi,
Repetindo o que um dia, de forma tão vil,
Roubou-lhe a alegria, a voz, o “depois”.
Foi então que a verdade, cruel, se mostrou,
Ela usava meu toque para reviver o dor,
E eu, ao perceber, meu coração se partiu,
Pois alimentar esse trauma é trair o amor.
Com o peito rasgado, tive que partir,
Não podia ser mais a sombra do mal,
Pois amá-la assim seria só ferir,
E no fim, alimentar um ciclo fatal.
**Cicatriz e silêncio, é o que resta agora,
O amor que queria, não pode florescer,
Mas deixo-a com preces, que um dia se embora,
E que o sol nasça em seu peito, que volte a viver.**