2025-02-20-Fugindo-da-Fuga--para-reconstruir-a-auto-imagem
Fugindo da Fuga, para reconstruir a auto imagem
Eu me lembro de um sonho febril da infância, onde a febre pintava paisagens exóticas na minha mente. Na vastidão da Índia do século XV, eu era um comerciante incansável, lutando contra o sol e o destino para oferecer à minha família uma vida melhor. Cada amanhecer era uma nova batalha, e o trabalho árduo me fazia acreditar que, um dia, a sorte sorriria para mim.
Quando finalmente conquistei uma posição de respeito, o brilho do sucesso transformou-se em soberba. Bebida e jogo passaram a ser meus companheiros inseparáveis, e, embriagado de orgulho, eu me entregava à ilusão de que nada poderia tirar de mim o que eu tanto lutei para conquistar. Em uma noite, sob o véu da embriaguez, apostei tudo o que tinha. O destino, impiedoso, girou a roleta e me despedaçou: perdi tudo.
O sentimento de perda foi devastador. Fui arrastado para a miséria, vagando como um mendigo, com a depressão consumindo cada fragmento do meu ser. A dor parecia eterna, e o sonho que um dia me fez acreditar em um futuro promissor transformou-se em um pesadelo incessante, repetido noite após noite.
Contudo, mesmo na escuridão, uma centelha de vontade resistia. Com o tempo, ergui-me das cinzas do fracasso e, com esforço quase titânico, reconquistei tudo o que havia perdido, dobrando até mesmo o patrimônio que um dia alcancei. Mas a vitória foi breve: a tentação do álcool e do jogo reapareceu, e, novamente, apostei tudo e perdi.
Hoje, faço uma pausa dolorosa e consciente. Já se passaram um mês sem fumar, sem beber. Nesse silêncio imposto, compreendi que os vícios eram apenas artifícios para me isolar da angústia e do estresse. Sinto falta, sim, daquele consolo ilusório, mas sei que aquele caminho jamais me traria a verdadeira paz.
Agora, vivo o jejum que consome meu estômago e os meus sentidos, e a sobriedade que remove o véu dos meus olhos. Cada dor, cada cicatriz, é um lembrete de que fugir era, na verdade, me afastar de mim mesmo. O desafio que se impõe é a reconstrução da minha auto imagem. Como me reinventar como empreendedor de protocolos descentralizados? Como criar um projeto de sucesso que funcione de forma autônoma, dando poder e autonomia ao meu povo?
Neste conto agonizante, aprendi que a verdadeira coragem não reside na fuga, mas no enfrentamento. Quando a morte vier e as vozes do passado perguntarem: “Por que você não foi bravo como Aquiles, genial como Albert Einstein ou corajoso como Davi?”, poderei responder com firmeza e autenticidade: “Eu fui eu.”
E você? Por que não foi você?
Estamos aqui para sermos autênticos, para abraçar nossas falhas e virtudes. Pois, ao final, o que realmente importa é ter sido fiel a si mesmo.

