Mente Cativa
Em um mundo não muito distante, as ruas estavam preenchidas com anúncios holográficos e veículos autônomos. Em meio a esse caos tecnológico, Carlos sentia-se um estrangeiro. A despeito da constante evolução ao seu redor, ele ainda se apegava a métodos antigos e convencionais, o que o tornava um pouco obsoleto no trabalho.
Então, o Neuralink Plus foi lançado, prometendo uma simbiose perfeita entre homem e máquina. Carlos viu ali uma oportunidade, um salto evolutivo pessoal. A implantação foi indolor e, em poucos dias, ele experimentou uma metamorfose cognitiva. Sua mente tornou-se mais afiada, as palavras fluíam com eloquência e ele podia absorver informações em um ritmo vertiginoso. Era como se o mundo tivesse desacelerado ao seu redor.
Mas com grandes poderes vêm grandes responsabilidades, e no caso de Carlos, grandes despesas. Embriagado por seu novo potencial, ele negligenciou as mensalidades do Neuralink Plus.
Numa manhã ensolarada, enquanto meditava, uma urgência incontrolável brotou em sua mente: a necessidade de possuir um par de tênis exibido em um anúncio recente. A sensação foi tão avassaladora que, antes mesmo de perceber, ele estava em uma loja, comprando-o. Nos dias seguintes, um relógio, um carro, um fone de ouvido. Suas finanças desmoronavam, mas o desejo incontrolável persistia.
Desesperado, Carlos procurou ajuda médica e foi então que descobriu a insidiosa função “span”. Uma forma da empresa receber, mesmo que de maneira indireta. Tentativas de desligar o dispositivo foram em vão. Seu cérebro estava, de certa forma, refém da tecnologia.
Sem emprego, afogado em dívidas e à beira de um colapso, Carlos ouviu falar de grupos que se opunham à dominação tecnológica. Foi assim que ele conheceu a Dra. Lívia, uma ex-engenheira do Neuralink, agora uma ativista ferrenha.
Lívia, com sua expertise, propôs uma operação arriscada para desativar o dispositivo. Carlos, sem muitas opções, aceitou. A operação, embora bem-sucedida, não foi sem consequências. Carlos não era mais o mesmo. Seu raciocínio, embora ainda lúcido, havia desacelerado, e ele vivia com uma constante dor de cabeça.
Contemplando o horizonte da sua varanda, Carlos refletia sobre a simbiose homem-máquina. Em busca de evolução, ele quase se tornou escravo. A mente, pensava ele, é o último refúgio da liberdade humana, e talvez, em sua busca por ascensão, ele tivesse entregado sua maior posse.
O avanço tecnológico, concluiu Carlos, é inevitável. Mas é preciso cautela para não perdermos nossa essência no processo. E com essa reflexão, ele se prometeu proteger sua mente, o último bastião de sua humanidade.