2025-02-12-Nada-mais-me-tem
Nada mais me tem
Nada mais me tem,
nem o álcool que ferve e corrói,
nem a brisa que vem
e em névoa me põe, depois se desfaz.
Nem o tempo me tem,
nem os sonhos que fogem, ligeiros,
nem as horas que correm, certeiros,
nem o ouro que brilha e não traz paz.
Decidi ser posse
única das coisas que me fazem bem:
minha família, meu chão e meu cais,
meu esporte, que eleva e mantém,
minha alegria, meu sopro de mais,
meu amor, onde tudo se faz.
É terrível ter um vício,
dar corpo a um ser que não sente,
ser presa de algo insistente
que toma, domina e retém.
Pois a pior parte do vício
é quando sentimos, de repente,
que ele nos tem—
e já não sabemos quem somos, ou quem.
Mas eu queimei minhas sombras,
dissolvi o que em mim era além,
e hoje, inteiro e livre,
nada mais me tem.

