Desejo como Violência
Desejo como Violência
Em uma análise profunda e provocativa, Ivan Capellato aborda a complexidade do desejo humano em seu vídeo “Desejo como Violência”. Ele propõe uma perspectiva intrigante, onde o desejo é visto não apenas como uma busca por satisfação, mas também como uma forma de violência - uma violência cometida sobre nossos instintos naturais pela cultura, linguagem e psiquismo herdado.
A Transformação dos Instintos em Desejos
Capellato começa sua exploração com uma premissa fundamental: o ser humano é um ser de carências, sempre em busca de algo, vivendo com a sensação da falta. Ele argumenta que, ao longo da história, a humanidade transformou seus instintos básicos em desejos por meio da linguagem e da cultura. Essa transformação é central para entender o desejo como uma forma de violência.
Na pré-história, os seres humanos eram guiados por instintos básicos: a busca por alimento, água e reprodução. Com o advento da linguagem e o desenvolvimento cultural, esses instintos foram sublimados em desejos. O desejo por comida, por exemplo, não é mais apenas uma resposta ao instinto de fome, mas se transforma em anseios específicos, como o desejo por chocolate ou uma determinada culinária.
A Violência da Cultura e da Linguagem
O aspecto mais revelador da discussão de Capellato é a ideia de que a cultura e a linguagem cometem uma forma de violência sobre nossos instintos naturais. Essa violência não é física, mas psicológica e emocional. Ela molda e, em muitos casos, distorce nossos desejos naturais para se adequar às normas e expectativas sociais.
Por exemplo, a sociedade impõe padrões de beleza, sucesso e comportamento que influenciam profundamente nossos desejos. As pessoas são levadas a desejar coisas que podem não ser verdadeiramente suas, mas são impostas pela cultura em que vivem. Essa imposição pode ser tão profunda que muitas vezes não reconhecemos a violência que ela representa.
O Desejo Desvinculado do Prazer
Outro ponto crucial abordado por Capellato é a desconexão entre desejo e prazer. Contrariando a noção comum de que desejamos aquilo que nos traz prazer, ele sugere que muitas vezes buscamos objetos ou experiências que não são prazerosas. Essa busca é impulsionada por desejos moldados pela cultura e pela sociedade, e não necessariamente pelo que nos traria satisfação genuína.
O Mito de Sísifo e a Incessante Busca pelo Desejo
Capellato compara a natureza incessante do desejo humano ao mito de Sísifo, condenado a empurrar eternamente uma pedra morro acima. Da mesma forma, estamos sempre buscando novos objetos de desejo, numa tentativa interminável de preencher um vazio que é, em grande parte, criado pela própria cultura que nos molda.
Conclusão
A visão de Ivan Capellato sobre o desejo como violência é um convite à reflexão sobre como nossos desejos são formados e influenciados. Ele nos desafia a questionar a origem de nossos anseios e a reconhecer as forças culturais e sociais que os moldam. Ao entender o desejo dessa maneira, podemos começar a discernir entre o que verdadeiramente queremos e o que nos foi imposto, abrindo caminho para uma compreensão mais profunda de nós mesmos e de nossa relação com o mundo ao nosso redor.
Referencia
https://youtu.be/KYkEyQzfvgU?si=cQctX2hr6yH_x-fb