O Sul e a Lua

Pensei em você, e a dor foi embora, Quis te encontrar, te beijar sem demora. Um sonho estranho roubou minha paz, Com sombras do ontem que a alma desfaz.

Minha esposa, em casa, recebeu o passado, Meu padrasto — o homem que tenho odiado. Entrou sorrindo, tirou-se em vaidade, E eu assistindo, em pura ansiedade.

A raiva veio junto da frustração, Trazendo à tona minha inquietação. Anos e anos de amor construído, Tantas batalhas, tanto ruído…

Casamento é rio de correnteza incerta, Às vezes morno, às vezes alerta. Nos desencontramos no mesmo lugar, Remando ao oposto, sem nos escutar.

Um se recria na luz do dia, Outro parado, sem ousadia. O quente e o frio, o Sul e a Lua, Dançando distantes sob a mesma rua.

E dói não ser visto, não ser ouvido, Viver ao lado, mas estar perdido. O amor requer dois em conexão, Mas a desarmonia parte o coração.

Ainda assim, pensei em você, E o peso se foi sem eu entender por quê. Talvez no amor reste alguma chama, Mesmo que queime numa brasa que clama.