O caco na ferida
Na minha alma um silêncio estridente,
Uma angústia que, soberana, reina.
Uma ferida, que soturna, detém
O poder de transformar a dor em cena.
Habilidades que aprendi a cultivar,
Reprimir, ocultar, esquecer, deixar ir.
Como um membro ausente que já não está,
A adaptação me ensinou a prosseguir.
Qual camaleão que muda a sua cor,
Eu me transformo para não doer.
Mas, e se a dor pedir o ultra violeta?
Como então, poderei me esconder?
A ferida aberta, o golpe acusado,
Com a rapidez do medo, a prontidão.
Pois a infecção poderia ser fatal,
Assim, aprendi a rápida suturação.
Mas como pude esquecer, em mim, o caco?
Significativo, agudo, a me cortar.
Esquecido em minha alma, tão profundo,
A dor silente, que insisti em ignorar.
Agora é hora da cirurgia, da cura,
De enfrentar o que, de mim, tentei fugir.
Carência, compulsões, auto sabotagem,
Em meu ser, já não irão mais se ouvir.
Em frente, sob a luz do desconhecido,
Caminho por um campo de batalha interna.
A dor já não é mais o inimigo,
Mas a chave que destranca a porta eterna.