2024-10-15-Sombra-do-Pai
Vejo em ti, pai, o instinto que me faz ser quem sou,
Nossos padrões cerebrais se conectam em oitavas diferentes.
A mesma obsessão pelo trabalho, manias compartilhadas,
Esquisitices que nos tornam espelhos em frequências distantes.
Teus e meus defeitos se entrelaçam no tempo,
Nossa habilidade de ser pai, de ser obsessivo em paixão.
Carregamos uma imagem distorcida de nós mesmos,
Sombra que dança ao som da tua língua em estalo e aflição.
A cada cinco minutos, um sinal do teu pensar sombrio,
Como se nos obrigasse a sentir o peso do teu fardo.
Torturas a própria mente e a nossa empatia,
Fazendo do amor um sentimento retalhado.
É desagradável estar na tua casa, confesso,
Sei que precisas de ajuda, mas te afastas como o guaxinim.
Não te sentes merecedor do afeto que te ofereço?
Que pena, pai, não vês o amor que há em mim.
Não quero ser igual a ti nesse espelho quebrado,
Não deixarei que minhas sombras afetem minha família.
Se é para tê-las, as terei sozinho, calado,
Lutando contra a escuridão que me vigia.
Sou sombra, mas também sou luz radiante,
Quando olho nos olhos dos meus filhos, vejo amor.
Formei uma família pacífica e constante,
Na luz encontro meu verdadeiro valor.
Não se vá, meu pai, fica mais um instante,
Celebra comigo a luz que ainda brilha.
A cada amanhecer, renasce um novo semblante,
Basta não deixar que o ciclo das repetições te aniquila.