2025-02-20-Um-mal-pai
Eu tento não pensar muito sobre isso, mas é difícil. Às vezes, o mundo parece um lugar tão pesado e injusto. Eu bebo e fumo maconha porque, de alguma forma, é a única coisa que me ajuda a esquecer, mesmo que seja por um momento. Não quero admitir, mas é a única fuga que tenho da realidade que me consome.
Minha filha autista… Eu a amo com todo o meu ser, mas as coisas nunca são fáceis. Ela grita o tempo todo, e o som é tão alto e constante que chega a rasgar minha alma. Não há descanso. Eu tento entender, tento ser paciente, mas às vezes sinto que não há mais forças em mim. Ela não fala. Eu queria tanto ouvir ela dizendo algo, qualquer coisa, só para saber que ela está lá, comigo. Mas nada. Apenas o silêncio. Eu me sinto impotente, incapaz de fazer algo simples como uma conversa com ela.
E então vem as birras. Parece que tudo vira um caos, uma tempestade de emoções que não consigo controlar. Eu tento de tudo, mas é como se estivesse lutando contra uma força invisível. A frustração me consome, e me sinto cada vez mais pequeno, mais incapaz de lidar com tudo isso.
E não é só isso. Às vezes, ela pega o coco do cachorro, e eu fico pensando: “Será que sou um pai tão ruim que minha filha não consegue entender que isso não é certo?” Parece que o mundo inteiro está me dizendo que estou falhando, que não sou o suficiente.
Minha esposa… Ela não me entende. Ela não deixa a filha ficar sozinha do lado de fora, e eu vejo nela um reflexo do meu fracasso como pai. Eu sinto que estou preso em uma bolha, onde nada que eu faça é certo. Tento ser o marido que ela precisa, o pai que minha filha precisa, mas parece que estou constantemente errando.
Eu bebo e fumo porque, em algum momento, me sinto como se estivesse afundando. Eu tento me perder nesses momentos fugazes, esperando que o alívio chegue, mas, no fundo, sei que é só uma ilusão. E no final, tudo volta para o mesmo lugar: a frustração, o cansaço e a sensação de estar sempre falhando.

